O MAIOR SONHO do brasileiro é conquistar a casa própria. Uma pena, pois é um sonho limitador. Por darem tanta importância a esse sonho, inúmeros brasileiros se precipitam e assinam um contrato de financiamento muito antes de conquistar reais condições de quitá-lo com tranquilidade. Pagam uma enormidade de juros por isso.
Se quisermos comprar uma casa ainda jovens, quando a poupança e a renda familiar ainda têm muito a crescer, teremos poucos recursos a oferecer de entrada ao nosso financiador. Com entrada pequena, o saldo a financiar é enorme e tem que ser dividido em muitas prestações.
O grande custo da dívida não está exatamente na taxa de juros nela embutida, mas sim no prazo que escolhemos para dividir os parcelamentos. Mesmo nos financiamentos mais populares e baratos, o preço de um imóvel financiado em 30 anos vai ser multiplicado duas vezes e meia. Os juros são baixos, e muitos especialistas argumentam que, diluído nesse prazo, o custo financeiro é razoável diante da grande conquista.
Porém o que os especialistas esquecem de levar em consideração é que, por pagarem em 30 anos, muitos devedores acabam comprando um imóvel maior do que necessitavam na época da assinatura do contrato. Um imóvel para um casal recém-casado é diferente de um imóvel que espera receber filhos nas próximas primaveras.
Os jovens que compram seu imóvel quando ainda ganham pouco acabam por comprometer excessivamente o orçamento familiar com uma prestação maior do que pagariam pelo aluguel de um apartamento mais simples e adequado para o momento.
Falta dinheiro para seu lazer, para seus planos de curto e médio prazos. Não há verba para se educar e aumentar sua renda. Poupar? Nem pensar.
Com um orçamento apertado por uma pesada prestação, qualquer imprevisto leva o casal a contrair pequenas dívidas. Férias? Só se contraírem um empréstimo. Carro? Só financiado. A consequência é que, normalmente, por assumirem o supostamente barato financiamento da casa própria, muitas famílias caem no perigoso jogo das pequenas dívidas, que no Brasil custam os olhos da cara.
A casa está a caminho de se tornar própria, mas todo o consumo é dependente do dinheiro de bancos ou financeiras, deteriorado por juros que diminuem o poder de compra.
O que falta ao brasileiro é a percepção de que a ingênua escolha de se endividar excessivamente para pagar a casa própria faz com que seu consumo cotidiano deixe de ser próprio. Uma vez dentro da ciranda das dívidas, esse brasileiro só consegue consumir se tiver um banco disposto a lhe alugar dinheiro a juros nada convenientes. Não é raro deparar com a absurda proposta de dividir compras de supermercado em 12 prestações. Se desmembrarmos o orçamento da classe média entre consumo, impostos e custo financeiro, teremos aproximadamente um terço da renda para cada um desses itens.
Em outras palavras, apenas um terço do suado dinheirinho do trabalho realmente se transforma em aquisição de bem-estar. O restante é dividindo entre um governo ganancioso e incompetente e bancos competentes em entender e explorar esse jogo.
Existe receita para tornar seu consumo mais eficiente. Prefira uma vida mais simples e barata, para que mais dinheiro sobre para as suas escolhas de bem-estar.
Enquanto não tiver ao menos 40% do valor do imóvel que deseja comprar, trabalhe bastante, estude para aumentar sua renda e viva em um imóvel alugado, mais simples do que aquele que você compraria. Poupe um pouco e gaste seu dinheiro com prazer.
A hora de comprar chegará quando, ao fazer as contas, você perceber que pode quitar seu imóvel em um prazo de até 15 anos. Depois disso, você terá que gastar com reformas. Até lá, discipline-se para acumular dinheiro antes de realizar seus sonhos cotidianos de consumo. Evitando dívidas e compras a prazo, você pagará menos juros e comprará mais bens e serviços, dando mais produtividade ao seu dinheiro.